Militar acusado pela morte de Mário Alves admite prática de torturas do DOI-Codi

08/15/2013 às 12:47 pm | Publicado em Informações | Deixe um comentário

Dos quatro militares acusados de envolvimento na morte de Mário Alves, só o major bombeiro Jacarandá comparece à audiência pública no Rio

“Major Jacarandá, nunca é tarde para o senhor se reconciliar com a sociedade e rejeitar o seu passado. Faço-lhe um pedido: diga onde estão os restos mortais do Mário Alves. Tem uma filha (apontando para Lucia Viera, filha única de Mário Alves) querendo saber”. Essa indagação, feita por José Carlos Tórtima, foi uma das que o major do Corpo de Bombeiros Valter da Costa Jacarandá ouviu, em audiência pública realizada, nesta quarta-feira (14/08), pela Comissão da Verdade do Rio, conjuntamente com a Comissão Nacional da Verdade.

O major negou que tenha participado de qualquer episódio envolvendo tortura, mas admitiu que “no calor do interrogatório, excessos foram cometidos”. Posteriormente admitiu que o que classificou de excessos foram torturas de presos políticos.

Ele negou ter qualquer informação sobre o desaparecimento e morte de Mário Alves e disse também que não interrogou o jornalista Álvaro Caldas, uma das sete testemunhas presentes, ao lado de José Luís Saboya, Maria Dalva Leite de Castro, Newton Leão Duarte, Paulo Sérgio Paranhos, Sylvio Renan de Medeiros, além de José Carlos Tórtima, todos ex-presos do Doi-Codi.

Jacarandá foi o único, dos quatro militares convocados pelas comissões, a comparecer à audiência, que aconteceu na Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro. Dulene Garcez, comandante do Pelotão de Investigações Criminais (PIC), Luiz Mário Correia Lima, primeiro tenente, e Roberto Duque Estrada, tenente promovido a capitão enquanto servia no Doi-Codi, alegaram que já prestaram esclarecimentos acerca desse fato e já respondem judicialmente pelo sequestro, tortura e morte do líder comunista Mário Alves, em 1970.

“Nós não aceitamos essas considerações e entendemos que, uma vez convocados, eles são obrigados a vir, mesmo que permaneçam em silêncio. Devemos marcar uma próxima data para que eles prestem seu depoimento e, para isso, vamos entrar em contato com o Ministério Público para que, mesmo que de forma coercitiva, eles sejam apresentados, além de, por não terem comparecido hoje, responderem ao crime de desobediência”, destacou o presidente da Comissão da Verdade, Wadih Damous.

Mário Alves foi o primeiro caso confirmado de tortura e morte no Doi-Codi. Ele foi sequestrado em 16 de janeiro de 1970, na Abolição, e levado para o 1º Batalhão de Polícia do Exército, na Rua Barão de Mesquita, na Tijuca. Ele morreu no dia seguinte aos 46 anos de idade após uma brutal sessão de tortura que durou a noite toda, com choque, pau-de-arara e empalamento, que teria provocado hemorragia e causado a sua morte. A militância política de Mário, que foi um dos fundadores da UNE na Bahia, foi lembrada no discurso da filha, Lucia Vieira. “Ele teve uma vida curta, de lutas, inteiramente dedicada ao seu sonho revolucionário. A verdade finalmente está sendo revelada e a história lhe fará justiça”, disse.

Para a coordenadora da Comissão Nacional da Verdade, Rosa Cardoso, a audiência pública é uma forma de fazer uma profunda reflexão sobre o significado da morte de Mário Alves. “A tortura e a violência não se tornaram práticas anacrônicas no nosso país, por isso a sessão de hoje leva a uma reflexão sobre isso”.

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